Trabalho apresentado a disciplina HA188

Biografia

 

Antonio Lucio Vivaldi nasceu em 4 de março de 1678 em Veneza, Itália. Na verdade, como nesta época não existia uma Itália unificada, a cidade e sua região formavam uma república independente - a Serenissima Reppublica. Era um ducado próspero e influente, muito ligado às artes: eram venezianos Monteverdi, Tiepolo, Tintoretto, Canaletto, Zeno, Albinoni... e Vivaldi, claro, que iria se tornar um dos mais célebres.

Antonio sempre teve uma saúde frágil. Consta que já correra risco de vida logo ao primeiro dia, tanto que seu batizado ocorreu apressadamente, poucos instantes após o parto. O pai, Giovanni Battista, era barbeiro, fabricante de perucas e também tocava violino, o que lhe valia um posto na Capela Ducal de São Marcos.

Os Vivaldi eram conhecidos na cidade pelo apelido de "Rossi", isto é, os vermelhos. Isso se devia ao fato de que a maior parte dos membros da família eram ruivos. Na época, ter os cabelos vermelhos era um tanto raro; os ruivos despertavam a atenção de todos e não eram muito bem vistos.

Antonio demonstrava vocação musical desde pequeno. Foi educado pelo pai, que o iniciou ao violino; seus progressos foram tão evidentes que logo entrou como "extra" na Capela Ducal. Ao mesmo tempo, seu pai o encaminhava ao sacerdócio. Giovanni planejava a carreira do filho com exatidão: padre, Antonio teria todas as garantias e a proteção da Igreja, e ainda assim teria trânsito livre no meio musical de Veneza.

Não foi diferente. Antonio recebeu a tonsura em 1693, quando tinha 15 anos, e foi ordenado dez anos depois. Exatamente no mesmo ano, o já Prete Rosso - Padre Ruivo - assumia o cargo de professor de violino no Ospedale della Pietà, instituição religiosa que fornecia abrigo e formação musical a meninas carentes.

Mas Vivaldi não rezaria missa por muito tempo. Aliás, cumpriria suas funções regulares por cerca de um ano. Depois, nunca mais. Há alguma lendas em torno deste fato. Uma delas conta que ele sairia correndo, em meio a uma missa, para anotar uma melodia que lhe ocorrera. Por essa história inusitada, Vivaldi seria afastado das funções sacerdotais pelo Tribunal da Inquisição. Porém, ele mesmo explicaria seu problema, já no final da vida:

Há vinte e cinco anos não celebro missa e não mais o farei, não por ordem ou proibição de meus superiores, mas de minha espontânea vontade, devido a uma doenção congênita que me deixa com a sensação de falta de ar. Assim que me ordenei padre, rezei a missa durante pouco mais de um ano e por três vezes tive que abandonar o altar sem terminar a cerimônia, por causa desse mesmo mal.

Qual seria este misterioso mal? Vivaldi o chamava de stretezza di petto - estreiteza de peito. Asma. É certo que sua saúde era frágil desde o nascimento, mas como o doente padre que não conseguia manter-se vinte minutos no altar pôde construir uma obra tão vasta, e ainda dar aulas, reger, ser virtuose e coordenar seus negócios, sem parar um instante? Ainda é um mistério.

Acometido de mal misterioso ou não, Vivaldi tornou-se diretor do Ospedale em 1705. Era um grande posto, apesar de mal pago. Tinha à sua disposição uma boa orquestra, coro e solistas, que, permanentemente e sem limitações de espécie alguma, lhe permitiam a execução de suas obras e toda a sorte de experiências musicais.

Existiam quatro ospedali semelhantes em Veneza, todos famosos por sua música - segundo Jean-Jacques Rousseau, "muito superior à das óperas, sem paralelo na Itália". A Pietà era a mais respeitada delas, e seus concertos eram freqüentados pelas pessoas mais influentes da época, inclusive reis e rainhas. Vivaldi, portanto, começou a entrar em contato constante com a nobreza. E iniciou sua fama internacional, fazendo viagens e publicando suas obras.

Além do Ospedale, Vivaldi se dedicou à ópera. Começou no teatro não apenas como compositor, mas como empresário, em 1713, quando sua primeira ópera, Ottone in Villa, foi encenada em Vicenza. Mas seu nome ficaria ligado ao Teatro Santo Ângelo, de Veneza, onde seria o principal organizador - mais modernamente, diríamos "agitador cultural".

Como empresário de ópera, Vivaldi teria uma vida das mais atribuladas. O Padre Ruivo não parava: contratava e dispensava, resolvia atritos entre cantores, solucionava problemas financeiros, ensaiava, montava turnês... e sua stretezza di petto? Parece que a doença não era empecilho.

Não bastasse o afastamento das funções da igreja e a atividade no teatro, nosso estranho padre ainda vivia cercado de um séquito bastante curioso: cinco mulheres - Annina, sua cantora predileta, Paolina, a irmã, a mãe das duas e mais um par de outras moças. Obviamente, Vivaldi tornou-se vítima de toda uma série de ataques e comentários.

O mais célebre foi um livro do compositor Benedetto Marcello, denominado Il Teatro alla Moda. O texto é destinado a quem quiser fazer sucesso na ópera, e dá conselhos a compositores, libretistas, cantores, músicos, cenógrafos e até às mães das cantoras! De maneira sarcástica, Marcello faz inúmeras alusões a Vivaldi, denominado ironicamente "compositor moderno".

Entre os sucessos e ataques, Vivaldi se consolidou como compositor e empresário, levando sua companhia teatral a apresentações em inúmeras cidades. Uma dessas viagens, no entanto, foi frustrada pelo Cardeal Tommaso Ruffo, que proibiu a ida de Vivaldi a Ferrara, em 1737, onde iria fixar a maior parte de sua atividade empresarial. O cardeal considerava Vivaldi uma pessoa indigna, "um padre que não reza missa e que mantém uma amizade suspeita com uma cantora". A empreitada consumiu boa parte dos bens do Padre Ruivo, e sua proibição, como definiu ele próprio, representou a "ruína total".

Vivaldi, quase falido e mal visto em sua cidade, resolve partir para o norte da Europa, em 1740. Os motivos e o destino desse exílio ainda são misteriosos, como boa parte da vida do compositor. Alguns historiadores defendem que Vivaldi teria, na verdade, sido expulso pelo governo da República de Veneza. Mas não há certezas.

De qualquer modo, a fuga de Vivaldi foi interrompida em Viena. Todos os indícios mostram que a capital austríaca era apenas um ponto de passagem. Ele se hospeda, ao lado da inseparável Annina, na casa de um desconhecido, de nome Satler. Passa algum tempo lá e, de maneira inesperada, no dia 28 de julho de 1741, falece.

Seu funeral foi a exata antítese dos sucessos fulgurantes que obteve tanto como diretor da Ospedale quanto como empresário de ópera: simples, pobre, sem rituais nem protocolos, na mais completa obscuridade. A contradição final para uma biografia marcada por elas.

Obra

A principal característica da obra de Antonio Vivaldi é o sua própria personalidade: uma agitação, um furor, um inquietamento, uma ânsia de compor raramente igualada em toda a história da música. É fácil verificar o tamanho desta furia musical: seu catálogo de obras conta, sem contarmos o que se perdeu, 456 concertos, 73 sonatas, 44 motetos, três oratórios, duas serenatas, cerca de cem árias, 30 cantatas e 47 óperas!

Todas as peças têm a marca pessoal do compositor: a sedução. É bastante difícil ficar indiferente à música de Vivaldi, que é das mais ricas, brilhantes e coloridas já compostas. Nessa busca pelo coração do ouvinte, o Padre Ruivo sempre optou pelas formas mais claras e pelas estruturas mais simples para construir sua obra.

Mas Vivaldi não pode ser considerado apenas um criador incansável de inesquecíveis melodias; ele deixou sua marca em toda a música instrumental que o sucedeu. É, com efeito, o primeiro compositor sinfônico. Com Vivaldi, os violinos adquirem grande força e densidade orquestral; é fixado o esquema tradicional de movimentos (rápido-lento-rápido); surge o concerto para solista; a instrumentação e a orquestração ganham importância nunca alcançada.

Não podemos esquecer seu lado "impressionista", representado em obras como As Quatro Estações e A Tempestade no Mar. Seria o primeiro compositor de música de programa, cem anos antes de Berlioz e companhia? Talvez, mas Vivaldi fazia muito mais evocação e representação de sentimentos que simples descrição. Por isso sua música era nova para a época em que foi composta e até hoje não perdeu seu encanto.

Vivaldi se destacou principalmente em três gêneros: música sacra (apesar de tudo, ainda era um padre), ópera e, principalmente, o concerto. É aqui que encontramos o melhor de sua música.

Música Sacra

É a parte da extensa produção vivaldiana menos conhecida pelo grande público, mas é também uma das mais interessantes. Vivaldi, como compositor de ópera, não poderia deixar de escrever música sacra "teatral", cheia de vigor e vitalidade. A união teatral-litúrgico / sacro-profano, como na própria vida do compositor, se faz marcantemente presente.

A mais conhecida peça sacra de Vivaldi é o Gloria, uma obra de majestosidade e beleza impressionantes. Outras obras-primas: o Stabat Mater, intensamente dramático; o Salmo 111, Beatus Vir; o Credo; e o Dixit Dominus.

No campo do oratório, a maior obra de Vivaldi é o imponente Juditha Triumphans, escrito em 1716, de orquestração deslumbrante e de virtuosismo vocal quase operístico. É, inclusive, muito mais convincente em termos dramáticos que suas próprias óperas.

Ópera

Apesar de ter dedicado a maior parte da vida ao teatro, a produção operística de Vivaldi não está entre a melhor música que compôs. Neste terreno, é, de certa forma, um compositor tradicional, infinitamente ligado às convenções e aos modismos - exatamente como pintou Marcello em Il Teatro alla Moda.

O pior defeito das óperas vivaldianas está nos libretos, muito fracos e desinteressantes. E Vivaldi parece não se importar muito com isso, não resolvendo suas óperas no sentido dramático: as árias não se relacionam umas com as outras. O compositor adapta seu estilo vibrante e sua instrumentação colorida ao que o público veneziano queria e estava acostumado a ver em cena: muito bel canto e virtuosismo vocal para a glória dos cantores.

A melhor incursão de Vivaldi no gênero é sem dúvida Orlando Furioso, ópera que foi reescrita três vezes - atitude incomum que talvez explique a qualidade da obra.

Concerto

Este sim, o território das maiores obras-primas vivaldianas, e onde ele transformou toda sua fantasia em música. Já vimos o quanto estes concertos ajudaram a fixar inúmeras características da música sinfônica posterior; o Vivaldi dos concertos é o Vivaldi revolucionário e experimentalista.

A grande explicação para essa ousadia é o fato de que todas estas obras foram destinadas ao Ospedale della Pietà. Lá ele tinha toda a liberdade - e estrutura, principalmente - para realizar seus exercícios e experimentações. Na Pietà, Vivaldi não tinha nenhuma das preocupações com o gosto volúvel do público, com o estrelismo dos cantores e com a necessidade constante de sucesso, que eram as tônicas de sua carreira teatral.

A maior parte dos concertos são para violino (223), mas Vivaldi gostava de experimentar outras combinações instrumentais: 27 concertos para violoncelo, 39 para fagote (!), 13 para oboé e até concertos para trompa, viola d'amore, alaúde, tiorba, bandolim, flautim...

A grande maioria dessas obras ficaram em manuscritos, que depois foram vendidos por um ducado cada alguns meses antes de sua morte. Outros poucos foram publicados ainda em sua vida, em coleções cujos nomes são bastante significativos: L'estro armonico (A inspiração harmoniosa), La stravaganza (A extravagância), Il cimento dell'armonia e dell'invenzione (O confronto entre a harmonia e a invenção), La cetra (A cítara) e o Il pastor fido (O pastor fiel).

O conjunto mais conhecido é o opus 8, O confronto entre a harmonia e a invenção, que incluem As Quatro Estações, A Tempestade no Mar e La Notte. Os quatro primeiros concertos do álbum são justamente as estações, que se tornaram a obra mais célebre do compositor e uma das mais queridas de toda a música ocidental.

 

 

Fonte: www.bravissimo.hpg.ig.com.br

 

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